Textos e reflexões de Rodrigo Meireles

14.1.11

O fenômeno Wikileaks e a transparência política

Nos últimos meses, têm causado furor as divulgações da organização Wikileaks, revelando informações diplomáticas sigilosas de vários países. Tamanhas revelações geraram revolta nos governos mais atingidos, sobretudo os Estados Unidos, que exigem o fechamento do site e a devolução dos documentos vazados. Novamente entrou em cena a discussão sobre a liberdade de expressão, com o risco de uma onda protecionista na internet.

Com esse fato, é importante que nos coloquemos diante de questões sobre a vida pública e a transparência que essa exige, bem como os limites éticos em relação à vida privada. Sobre a vida privada, como já denunciava Michel Foucault e o seu panoptismo, nota-se que seus limites foram bastante diminuídos nas últimas décadas e as pessoas são cada vez mais observadas. Contudo, não entrarei nessa questão. Sobre a vida pública, sobretudo em regimes democráticos, é preciso destacar que essa exige transparência.

O Wikileaks abriu a caixa preta de muitas operações - diplomáticas e militares - realizadas nos últimos anos e a reação gerada foi de constrangimento e de necessidade de proteção. O rei está nu. É do conhecimento geral que nos bastidores da política são emitidas declarações e decisões que ferem a ética e não respeitam o ser humano; em paralelo, é do conhecimento histórico que a humanidade evoluiu na constituição de seus direitos e na proteção de sua espécie. São dois conhecimentos que se justapõem, mas que são vividos na mais falsa harmonia. O "Top Secret" ou decisões que influem diretamente na vida (e na morte) de muitos cidadãos comuns, que nada ou pouco têm a ver com quem toma tais decisões, continua a permear o mundo diplomático e as supostas democracias modernas.

Recentemente foi lançado um documentário ("Wikirebels") que explica bem como nasceu e se desenvolveu a organização Wikileaks, esclarecendo os passos tomados pela organização nos últimos anos. Algumas informações são no mínimo curiosas, como o interesse inicial de governos numa ferramenta como essa. Não é preciso dizer que tal interesse durou até o momento em que os mesmos governos foram importunados com revelações estarrecedoras sobre suas próprias ações, como os crimes de guerra cometidos pelas Forças Armadas dos Estados Unidos no Iraque.

A vida pública exige transparência, sobretudo no que tange à vida de seres humanos e à preservação de seus direitos. Com isso, pessoas públicas, órgãos e governos não podem fazer o que bem entendem, a favor unicamente de seus interesses nacionais ou corporativos.

O debate está aberto e aceso em diversos canais da internet. Dê a sua contribuição e manifeste-se você também. Uma boa dica é assistir ao documentário mencionado, que disponibilizo logo abaixo. Dura cerca de uma hora e está dividido em quatro partes, que podem ser vistas clicando nas setas laterais ou esperando que se abram automaticamente após o término de uma parte anterior. Bom filme e boas reflexões!

 




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