Textos e reflexões de Rodrigo Meireles

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26.7.13

Juventude e participação política

Em dias de grande importância para a juventude, eu gostaria de compartilhar o livro "Juventude, Educação e Participação Política", de Alexandre Aragão de Albuquerque, educador, amigo e mestre em Políticas Públicas e Sociedade. Este trabalho foi fruto de uma pesquisa suscitada de encontros com jovens em Fortaleza/CE, na qual foi possível compreender melhor como se dá a participação política da juventude nos espaços que são oferecidos.

Assumir um papel político, isto é, que vise um bem comum, não é tarefa fácil nos dias de hoje, sobretudo se consideramos o descrédito da população com os políticos que estão nos poderes. Ainda assim, a política deve ser melhor compreendida para instigar maior participação das pessoas, principalmente dos jovens e de quem historicamente tem sido deixado à margem das discussões. Política não deveria ser para alguns, mas para todos, afinal a polis não se restringe a uma minoria. Todos podem e devem assumir a sua responsabilidade política de garantir um mundo, um país, um estado, uma cidade ou um bairro melhor de se viver, e isto está para além do voto.

Para continuar esta discussão, compartilho o prefácio escrito por Maria Teresa Nobre, Professora da Universidade Federal de Sergipe. Neste texto, a partir do trabalho desenvolvido por Alexandre, a professora traça uma breve reflexão sobre o protagonismo e a importância da participação política nos cenários abertos do cotidiano.

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Protagonismo e participação: desafios da ação política

Espaços institucionais são lugares que podem ser ocupados de muitas maneiras. Lamentavelmente, pela corrosão que vem se procedendo nos regimes democráticos pelo mundo afora, essa ocupação tem se dado de modo formal, para cumprir agendas políticas, pautas de plataformas de estados e governos, que não raramente privilegiam interesses outros e não a vida concreta das pessoas, suas relações sociais, seus estilos de vida. Não é novidade, nem recente, a divulgação de resultados de pesquisas feitas por vários órgãos que atestam a descrença das pessoas nas instituições, sejam elas tomadas no seu aspecto imaterial (como a religião, a política, a família), sejam no seu aspecto concreto (os partidos, as igrejas, as políticas públicas, os movimentos sociais, etc.). Muito comum também é o discurso sobre a apatia da juventude, a sua “alienação”, o seu individualismo, marcadamente ancorados no consumismo e no hedonismo, que se tornaram baluartes dos modos de viver na contemporaneidade.

O trabalho que Alexandre Aragão nos apresenta vem na contramão dessas “lógicas”. Trata-se de um fragmento de longas experimentações, que constituem a trajetória de militância política e vida acadêmica do autor, desde a sua participação na política estudantil dos anos 1980, na Universidade Federal de Pernambuco até a coordenação da Escola Civitas de Fortaleza, entre 2007 e 2009. Desse longo percurso, que agrega silenciosamente tantas outras experiências - não relatadas no texto, mas implícitas em muitas passagens do trabalho -, foi gestado o objeto da sua dissertação de mestrado apresentado ao Programa Políticas Públicas e Sociedade, da Universidade Estadual do Ceará, em 2011: a participação de jovens estudantes do ensino médio de uma escola pública, no Orçamento Participativo de Fortaleza. Problematizar como se deu a participação dos jovens que ocuparam o espaço público na condição de protagonistas e não de meros expectadores, foi o desafio posto a si mesmo pelo autor e o coração da pesquisa por ele empreendida.

Falo em protagonismo remetendo à origem etimológica da palavra: agonia em luta. Neste sentido, toda experiência de participação política tem a sua agonística: ela emerge do conflito, da disputa travada no jogo de forças que os homens tramam entre si, do combate nas ações cotidianas. Tal espírito de luta, como nos ensinam as narrativas épicas dos gregos, entretanto, não exalta o aniquilamento dos vencidos, mas a afirmação da nossa condição de homens livres, capazes de desenvolver o espírito de tolerância, respeito ao oponente e senso de justiça.

Na esteira da construção desses valores temos a invenção da Política, como dispositivo de exercício de poder que se contrapõe à guerra. Uma discussão inovadora sobre o poder, esse tema tão caro à filosofia política, é brilhantemente feita por Alexandre Aragão, sendo essa uma marca forte do trabalho: os modos pelos quais o exercício do poder político é apropriado por jovens que em geral, encontram-se à margem da esfera pública.

Privilegiando a voz dos próprios atores, sejam eles gestores, professores e, sobretudo, alunos, ouvidos em situação de observação participante o autor narra o percurso da participação de jovens estudantes no Orçamento Participativo de Fortaleza e seu impacto sobre a construção da cidadania, que se inicia numa sala de aula e se amplia com a experiência da Escola Civitas.

O trabalho de campo da pesquisa salta aos olhos, num enredo que convoca o leitor à reflexão e que instiga a discussão acerca da relação do pesquisador com seu objeto. Longe de defender uma neutralidade asséptica o autor explicita na metodologia adotada e na análise dos dados sua própria posição política, marcada pelos valores nos quais acredita e que defende: a abertura à diferença como condição necessária ao diálogo que produz e sustenta a ação política, a igualdade e a liberdade como pilares da construção da democracia e a comunhão fraterna, ancorada na generosidade de uma doação que não é apenas de bens materiais e simbólicos, mas de si mesmo, como força motriz da construção de uma nova sociedade, que começa, entretanto, por ações miúdas, que ganham visibilidade e força quando compartilhadas.

Por um lado, a narrativa aponta inquietações, contradições, impasses e desafios vividos pelos protagonistas, e por outro, apresenta reflexões sobre as alternativas encontradas, muitas vezes num exercício de teimosia e esperança de adolescentes e jovens que insistiram em desafiar a ordem posta das coisas: o que queremos para o nosso bairro, para a nossa cidade? Como queremos? Do que precisamos, quais as nossas necessidades, nossos desejos? Como fazer os moradores participarem? Como fazer nossa voz ser ouvida em espaços institucionais pouco afeitos à participação popular?

Destaco aqui essa agonística, ressaltando a enorme distância que existe entre a idéia de um projeto e sua realização após ter se institucionalizado e disso não escapam as experiências rotineiras do Orçamento Participativo. Ao produzem fraturas nessa lógica da participação formal ou burocrática, ao cavarem “brechas” para uma participação concreta e democrática, os atores da experiência relatada por Alexandre Aragão denunciam a tendência que as organizações sociais possuem ao fechamento e reprodução de práticas instituídas, mas ao mesmo tempo, anunciam a possibilidade de mudança, que se dá a partir do compromisso político-afetivo das pessoas, enfatizando o caráter coletivo dessas ações. É esse sentido do coletivo – a construção de um “nós” em contraposição a “eu e os outros” - que forja nos jovens uma nova dimensão da política, antes vista tão somente no seu aspecto negativo, como campo de corrupção e desavenças.

“Sejamos realistas, tentemos o impossível”, dizia uma das frases gravadas nos muros de Paris, em maio de 1968. Numa época de perda de ilusões, de descrença em mudanças, de acomodação e indisposição para a luta, de insegurança e medo generalizado que produz isolamento e apatia, os atores da experiência apresentada neste livro mostram que pequenas ações cotidianas de participação política podem resultar na conquista de bens sociais a serem partilhados, em alegria, reconhecimento e esperança. É, pois, com enorme satisfação que prefacio este livro, convidando o leitor a mergulhar nas experiências nele narradas e encontrar a vida que nelas pulsa, através de seus personagens e das ações por eles protagonizadas.

Maria Teresa Nobre




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28.10.12

A Política

O futuro é hoje, vivo e atualizo isso no meu dia-a-dia. Não obstante as tantas dificuldades, as disputas, os confrontos (tantas vezes feito de maneira forçada e apelativa, até violenta), vejo-me muitas vezes sem forças para ir adiante e me sinto pequeno diante de todas essas coisas. O mundo é muito maior do que eu. Contudo, a cada pessoa que me procura, a cada energia que dispendo na escuta ativa de algum sofrimento, a cada olhar perdido que encontro, descubro que mesmo pequeno não existo à toa e não sou em vão. Posso amar e me encontrar naquele outro. Posso crescer e ampliar o meu olhar em um tu que, por alguns minutos, também sou eu, imerso neste mundo e na existência. Esta é a minha experiência diária, que procuro renovar a cada novo raiar do sol. Esta é a minha Política.

Contudo, esta Politica se estende para além de mim. Forma grupos, instituições, organizações em prol de algo comum. Eis que temos também os partidos, eis que temos ainda os interesses e as conveniências, alimentadas pelas ideologias. Eis que temos a democracia, mesmo em suas contradições ou incompletudes. Eis que temos o futuro, no presente cheio de conflitos e em crise e que suscita novos movimentos, novos olhares e novas formas de ação. Se apenas fazemos leitura de momentos, corremos o risco de cairmos constantemente na espiral hegeliana, em que tudo flui e se atualiza historicamente, não importa como e para onde. Não, não vejo que a Política seja uma coisa de momento, acredito ser este um erro hermenêutico. Penso na Política inserida na cultura, de forma anterior a ela, mas que ocorre mesmo "distorcida" pelos fatos. Não é mera criação dos homens para uma vida social, mas fundamental e necessária para sua sobrevivência, no seu ethos.





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26.8.12

Ser cidadão sempre!

No próximo dia 7 de outubro, estaremos todos nas urnas para escolher o prefeito de nossas cidades. Para isso, devemos saber fazer a nossa escolha de modo consciente e participativo, conhecendo cada candidato através de suas propostas e suas articulações. Contudo, é preciso destacar que as eleições não se resumem a um simples voto. O processo eleitoral é parte do exercício da cidadania, que deve ser vivido antes, durante e após as eleições. Ou seja, nós, cidadãos, não podemos ficar passivos e esquecer da nossa importância para a cidade nem mesmo depois das eleições. Uma vez efetivada a escolha coletiva, com o resultado das urnas, temos de conhecer as ações da prefeitura e nos posicionar através de nossas críticas, sugestões e denúncias. Como já diria Betinho, o verdadeiro cidadão se manifesta, escolhe e participa!

Portanto, não basta selecionar um número e digitar na urna eletrônica. Dê a sua sugestão, faça a sua crítica de como está a sua cidade, defina a sua posição e após as eleições participe ativamente das ações da prefeitura através dos espaços já constituídos ou criando espaços para diálogo. As associações comunitárias são excelentes exemplos de espaços para este diálogo e para possíveis articulações. Além disso, também é possível alimentar as redes sociais, cobrar do prefeito eleito a realização de suas propostas e participar dos fóruns abertos pelo poder público ou pelas redes e associações civis para que sejam definidas as políticas necessárias para a cidade. O bem comum só é possível quando, juntos, buscamos o que queremos.

Manifeste-se, escolha e participe!


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31.3.12

A Política e a Morte

Que o Senador Demóstenes Torres (DEM-GO) está "morto politicamente" poucos duvidam, mas o fato é que a política, tal como está, assiste a morte dos valores primordiais da democracia e da ética humana. Fere-se, a todo instante, a dignidade humana, o respeito à igualdade de direitos, a liberdade, a coerência e a verdade em nome de interesses privados e de uma incessante busca pelo poder. Com isso, a política não se revela como espaço de todos os cidadãos unidos em torno de um bem comum, é apenas um espaço de embates territoriais repleto de "toma lá, dá cá" no qual vence quem se associa ou se articula melhor.

Já não valem discursos pomposos que defenda a ética e o combate à corrupção, que o diga o Senador mencionado. Um homem de palavras tão diretas e cujo discurso se pautava pela afirmação da honestidade e do combate à corrupção agora se defende argumentando que as investigações feitas contra ele foram ilegais. Para além da legalidade ou não, há que se considerar que de um senador da envergadura de Demóstenes, líder da oposição no Senado, não se pode esperar negociações ilícitas de qualquer ordem, pelo bem da democracia e dos cidadãos, que legitimam a sua função. Se é verdade o que as acusações apontam, qualquer investigação é válida e não pode ser diminuída em virtude do cargo que se ocupe, uma vez que envolve favorecimentos a interesses limitados, apoio a práticas ilegais e enormes somas de dinheiro.

Não duvido que outros políticos estejam envolvidos neste escândalo, como não se duvida que muitos políticos estejam enrolados em práticas corruptas. Não é de hoje, dado que este mal nos persegue há séculos nos mais diversos recantos da humanidade. Contudo, é na política (ou através dela) que esta mesma humanidade pode sobreviver enquanto espécie, pois é pensando-se, coletivamente, que se descobre enquanto povos capazes de convivência. Matando a política, matamos os cidadãos, e a humanidade perde seu rumo. Portanto, matando os valores já amadurecidos e desenvolvidos por esta mesma humanidade, lentamente matamos a política e, assim, contribuímos para a morte de todos nós.

Exemplos como o citado acima são constantemente repetidos a cada dia, para além do quem, do onde e do como. São estes "exemplos" que afetam a esperança por mundo melhor de milhares de pessoas que apenas querem viver felizes e em paz. São "exemplos" que não queremos ver repetidos em nossa história, para que esta nos orgulhe e nos permita morrer tranquilamente. É hora de acordar e mudar esta política!


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30.5.11

A importância de um marco regulatório para a comunicação

A mídia brasileira necessita de um marco regulatório que a regimente. Essa foi uma das bandeiras mais discutidas no I Encontro de Blogueiros e Mídias Sociais do Ceará, realizado neste último final de semana. Colocou-se em relevo que ainda não existem leis atualizadas que permitam uma regulamentação do setor. Fica a pergunta: qual a importância disso?

É de notório saber que o poder da mídia é de grandes dimensões, haja vista o impacto psicológico e social que gera nas pessoas. Por isso mesmo é preciso ter regras. Não se pode pensar que fazer mídia signifique transmitir ou publicar qualquer coisa, à revelia da ética e do cuidado à dignidade humana. Neste ponto, uma observação importante: enquanto a Constituição Federal de 1988 trabalha com a presunção da inocência, infelizmente o que se verifica na grande mídia é que esta trabalha com a presunção de culpa. Em outras palavras, o risco de tal poder é a destruição pela comunicação. Se a mídia quiser, acaba com a vida de alguém expondo-a na proporção que ela julgar necessária até o ponto em que um direito de resposta já não seria de grande valia. Trabalhar com a presunção de culpa é o mesmo que dizer que se a mídia julga alguém culpado, mesmo sem uma avaliação legal, este "é" culpado e esta o tratará assim até que se mostre o contrário. O problema é que quando o contrário vem à tona já é tarde e o estrago já está feito.

Há quem compare o poder da mídia ao poder ditatorial, afinal, é um poder que se concentra nas mãos de poucos, que decidem o que deve circular definindo os momentos, as formas e as circunstâncias de cada conteúdo. De outro lado, há quem tema que uma regulação da mídia mine a liberdade de expressão, mesmo em um contexto no qual a liberdade de expressão das grandes mídias é a liberdade de poucos sobre muitos. Nesse ínterim, limito-me a afirmar que a verdadeira liberdade de expressão é a que abre o espaço para os ditos e os contraditos, que não se restringe a um ponto de vista limitado. Ademais, se não existem regras para a comunicação social, a liberdade do mais forte se sobrepõe à liberdade do mais fraco.

Eis porque se faz necessária uma regulamentação da comunicação. É preciso garantir a todos os cidadãos o direito à comunicação e a possibilidade de escolher o que quer ver; é preciso garantir o acesso à internet com banda larga para todos; além de ser urgente a luta pela verdadeira liberdade de expressão. Juntamente com outros milhares de blogs Brasil afora, estou junto nesta luta por uma comunicação mais fluida e democrática entre todos os cidadãos. Faça a sua crítica, reflita e levante esta bandeira!





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4.5.11

Como festejar a morte de uma pessoa?

A nação norte-americana vibrou! Festejou à valer como se tivesse vencido um campeonato importante durante a madrugada desta última segunda-feira. Uma festa que ainda continua! Hoje saiu uma notícia de que chegaram ao ponto de confeccionar peças de roupas e outros objetos com estampas destacando a alegria pela morte de Bin Laden. Como alguém pode festejar a morte de uma pessoa de maneira tão efusiva?

Por acaso a morte de Bin Laden resolveu os problemas? Segundo o presidente dos Estados Unidos, "a justiça foi feita". Perguntemo-nos: como se faz justiça? É possível eliminar o mal matando alguém? Estamos realmente livres do mal com o morte de Bin Laden? A julgar pelo tamanho da festa em território norte-americano, sim; mas a julgar com a inteligência que lhes parece faltar nesses momentos, não. O mundo continua o mesmo, com ou sem Bin Laden, pois o mal não é fruto de uma só pessoa; tem raízes bem mais profundas e o que ele fez outros podem fazer.

O atentado às torres gêmeas e ao pentágono, orquestrado pela organização comandada por Bin Laden, foi, sem dúvida, um estrondoso crime contra a humanidade. No entanto, o ato dos Estados Unidos revela a prepotência de uma cultura que se acha salvadora do mundo e com o direito de invadir países com o motivo que julgar correto e oportuno. O que eles fizeram abre novos e perigosos precedentes de violação de direitos humanos, uma vez que a ação realizada no Paquistão pode ser feita em qualquer lugar, como já demonstrado no Iraque e no Afeganistão recentemente.

Os Estados Unidos utilizaram a força militar numa ação unilateral, sem aliança com outros países, em território estrangeiro. Em outras palavras, invadiram a casa de uma pessoa em um outro país e a assassinaram. Por que não capturaram Bin Laden e sua trupe para melhor conhecer as causas que os levaram a cometer os atos de terrorismo? Certamente, a Al Qaeda poderia ser melhor conhecida com uma investigação mais detalhada feita com o próprio Bin Laden, que diziam ser o comandante principal. No entanto, ele foi sumariamente executado, eliminado, num ato tão covarde quanto o que o próprio cometeu comandando o atentado às torres gêmeas e ao pentágono.

O terrorista mais procurado está morto, mas não há o que festejar. Afinal, sangue não pede mais sangue e a paz não precisa da guerra. Onde iremos parar se continuar assim?


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14.1.11

O fenômeno Wikileaks e a transparência política

Nos últimos meses, têm causado furor as divulgações da organização Wikileaks, revelando informações diplomáticas sigilosas de vários países. Tamanhas revelações geraram revolta nos governos mais atingidos, sobretudo os Estados Unidos, que exigem o fechamento do site e a devolução dos documentos vazados. Novamente entrou em cena a discussão sobre a liberdade de expressão, com o risco de uma onda protecionista na internet.

Com esse fato, é importante que nos coloquemos diante de questões sobre a vida pública e a transparência que essa exige, bem como os limites éticos em relação à vida privada. Sobre a vida privada, como já denunciava Michel Foucault e o seu panoptismo, nota-se que seus limites foram bastante diminuídos nas últimas décadas e as pessoas são cada vez mais observadas. Contudo, não entrarei nessa questão. Sobre a vida pública, sobretudo em regimes democráticos, é preciso destacar que essa exige transparência.

O Wikileaks abriu a caixa preta de muitas operações - diplomáticas e militares - realizadas nos últimos anos e a reação gerada foi de constrangimento e de necessidade de proteção. O rei está nu. É do conhecimento geral que nos bastidores da política são emitidas declarações e decisões que ferem a ética e não respeitam o ser humano; em paralelo, é do conhecimento histórico que a humanidade evoluiu na constituição de seus direitos e na proteção de sua espécie. São dois conhecimentos que se justapõem, mas que são vividos na mais falsa harmonia. O "Top Secret" ou decisões que influem diretamente na vida (e na morte) de muitos cidadãos comuns, que nada ou pouco têm a ver com quem toma tais decisões, continua a permear o mundo diplomático e as supostas democracias modernas.

Recentemente foi lançado um documentário ("Wikirebels") que explica bem como nasceu e se desenvolveu a organização Wikileaks, esclarecendo os passos tomados pela organização nos últimos anos. Algumas informações são no mínimo curiosas, como o interesse inicial de governos numa ferramenta como essa. Não é preciso dizer que tal interesse durou até o momento em que os mesmos governos foram importunados com revelações estarrecedoras sobre suas próprias ações, como os crimes de guerra cometidos pelas Forças Armadas dos Estados Unidos no Iraque.

A vida pública exige transparência, sobretudo no que tange à vida de seres humanos e à preservação de seus direitos. Com isso, pessoas públicas, órgãos e governos não podem fazer o que bem entendem, a favor unicamente de seus interesses nacionais ou corporativos.

O debate está aberto e aceso em diversos canais da internet. Dê a sua contribuição e manifeste-se você também. Uma boa dica é assistir ao documentário mencionado, que disponibilizo logo abaixo. Dura cerca de uma hora e está dividido em quatro partes, que podem ser vistas clicando nas setas laterais ou esperando que se abram automaticamente após o término de uma parte anterior. Bom filme e boas reflexões!

 




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17.10.10

As eleições e o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

Hoje, 17/10, é o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. Dia que chama a atenção do mundo para o primeiro dos oito objetivos assinados por 189 países há dez anos na Cúpula da ONU. Já escrevi um artigo sobre os objetivos de desenvolvimento do milênio, mas hoje quero destacar a necessidade e a importância da erradicação da pobreza para dar melhores condições de vida às pessoas que hoje sofrem com esse problema. Juntamente com outros 376 blogueiros de todo mundo, unidos através do Bloggers Unite, podemos entrar nesta discussão e refletir juntos o que é possível fazer.

Aproveitando o clima de eleições no Brasil, que neste exato momento está fervendo em debates pouco profundos, gostaria de confrontar os programas de cada candidato acerca do combate à pobreza.

Para melhor avaliarmos estes programas, é importante que nos coloquemos de frente a pelo menos duas perguntas básicas: a primeira, o que é pobreza? E a segunda, por que e como devemos erradicá-la?

Normalmente, quando falamos de pobreza fazemos referência à carência material ou mesmo à miséria a que estão submetidas milhões de pessoas em todo mundo. Todavia, alguns estudos apontam para uma descrição mais profunda desta questão, através da qual a pobreza representa uma privação de poder. Para Amartya Sen (1999), não podemos compreender o fenômeno da pobreza sem considerar a ética dos ideais de bem-estar humano, que ao longo da história a economia paulatinamente escondeu. Tratar a pobreza como uma mera falta material nos faz cair em um utilitarismo, cuja solução nos remeteria a um dar esmolas sem considerar a demanda de justiça social de quem se encontra imerso neste duro contexto. Citando Virginia Moreira (2000), "a privação de poder e controle pode ser visto como uma inabilidade em exercer 'liberdade'. Isso, por sua vez, causa a pobreza" (p. 210). É nessa linha que Amartya Sen propõe, para combater a pobreza, um desenvolvimento como liberdade. Erradicar a pobreza, tida como privação de poder e limitação das capacidades morais humanas, é necessário para libertar as pessoas da dominação de um sistema que as esmaga, tolhendo a sua voz e limitando a sua participação social. Da mesma forma como se faz necessário abolir os estigmas ligados a esta privação, como o estigma que associa ao pobre a imagem de incapaz. Ainda segundo Virgina Moreira, "as experiências de verdadeira cidadania [dos pobres] são limitadas, por não sentirem poder sobre suas vidas públicas" (ibidem).

Como erradicar a pobreza? Partindo do quanto já descrito, Amartya Sen (2000) aponta a necessidade de mudar a lógica de desenvolvimento econômico associando a esta o desenvolvimento humano. Não é possível pensar em desenvolvimento econômico sem considerar o desenvolvimento humano. Do contrário, continuaremos a assistir ao avanço das desigualdades sociais. Segundo ele, Faz-se necessário criar oportunidades sociais para as pessoas de baixa renda para que elas se sintam incluídas no fazer econômico. Ele afirma que: "a expansão dos serviços de saúde, educação, seguridade social contribui diretamente para a qualidade de vida e seu desenvolvimento. Há evidências até de que mesmo com renda relativamente baixa, um país que garante serviços de saúde e educação pode efetivamente obter resultados notáveis de duração e qualidade de vida de toda a população" (p. 170). Portanto, é preciso melhorar os serviços básicos para proporcionar um desenvolvimento integral da pessoa e favorecer a sua inclusão social, aumentando as suas capacidades de ação e participação na vida pública.

Considerando estes pressupostos, podemos conhecer os programas de cada candidato. Comecemos com o programa da coligação "O Brasil pode mais" do candidato José Serra (PSDB). Segundo consta no seu site, as propostas para o combate à desigualdade social prevêem uma continuidade e uma ampliação dos programas já existentes, como o Bolsa Família, com a novidade da criação de um 13o. para este benefício. Além disso, prevê a criação de uma bolsa de estudos para a qualificação educacional e profissional dos jovens, oferta de cursos rápidos de qualificação e requalificação para o trabalho e o investimento em casas para a população carente com até 3 salários mínimos. Está na pauta também a criação de uma secretaria especial para o semiárido, a reestruturação da SUDENE e a criação do Conselho de Desenvolvimento da Amazônia.

O programa da coligação "Para o Brasil seguir mudando" da candidata Dilma Roussef (PT) diz que é necessário continuar a linha dos programas em vigor, como o Bolsa Família, proporcionando a transição deste programa para o Renda Básica da Cidadania (RBC), projeto aprovado pelos partidos em 2004 e sancionado pelo presidente Lula que assegura "a participação de todos na riqueza da nação". Além disso, citando alguns pontos do programa relativos à diminuição da desigualdade social, a coligação de Dilma propõe a ampliação do emprego formal, a manutenção da política de valorização do salário mínimo, a expansão e facilitação do crédito popular, a expansão do programa Territórios da Cidadania, a intensificação dos assentamentos com o necessário apoio técnico aos assentados, o fortalecimento da agricultura familiar e da agroindústria familiar, e o "estímulo ao cooperativismo e outras formas de economia solidária".

Estas são as propostas que colhi dos candidatos voltadas para o combate à desigualdade social, bastante ligada ao conceito de pobreza de que tratei há pouco. Ambos os programas estão escritos de forma vaga e genérica, muitas vezes propondo a expansão e melhoria do que já existe sem especificar o que pode ser feito com mais precisão.

Posso fazer duas observações importantes no processo de escolha entre um candidato e outro, sobretudo acerca do tema abordado neste texto: em primeiro lugar, o fato de que os programas em muito se complementam, havendo pontos positivos em ambos que precisam ser levados em conta; e em segundo lugar, o fato de que para considerarmos diferenças entre os candidatos faz-se necessário conhecer mais do que as propostas que eles fazem, conhecendo a política que está por trás do fazer de cada um. É preciso reconhecer qual é a política adotada por um e outro e verificar com qual delas estamos mais identificados e comprometidos. Além disso, acrescento que, considerando a campanha em andamento, é importante também reconhecer o nível de coerência no discurso de cada um. Num processo contaminado por notícias falsas que circulam rapidamente pela internet e pela grande mídia não é difícil perceber que existem grandes diferenças. No que tange à pobreza, é válido fazer uma pesquisa na própria internet para levantar e avaliar os dados relativos. Com esses dados, podemos avaliar em qual situação o Brasil se encontra e em que podemos melhorar.

Referências bibliográficas:
Sen, A. Sobre ética e economia. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
_____. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Moreira, V. Psicopatologia e pobreza. In: Moreira, V. e Sloan, T. Personalidade, ideologia e psicopatologia crítica. São Paulo, Escuta, 2002, p. 207-229.



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16.10.10

A internet e a sua força nas eleições 2010

Como podemos ver, o debate eleitoral tem se tornado cada vez mais acalorado e as notícias voam com uma velocidade incrível. "Nunca antes na história deste país" tivemos tamanha troca de informações em prol das eleições. Os candidatos se prepararam antes do processo eleitoral iniciar e se armaram com blogs, twitters, facebook e orkuts, criando perfis, comunidades e sites para abrir novos canais de comunicação com o eleitor. Além disso, os blogueiros de plantão, entre jornalistas e cidadãos comuns, também intensificaram o debate na rede mundial de computadores.

Segundo estatísticas colhidas pelo site To be Guarany!, no Brasil já temos mais de 67,5 milhões de internautas, dos quais pelo menos 36,4 milhões têm acesso regular, em casa ou no trabalho. Considerando o total, ao menos 87% acessam a internet semanalmente e o ritmo de crescimento tem aumentado intensamente. Segundo a Agência Estado, o Brasil ocupa a quinta posição em mercado de celulares e internet.

Nesse contexto, como muitos blogs e analistas puderam confirmar, o resultado das eleições presidenciais no primeiro turno foram bastante influenciados pela troca de informações virtuais. Além disso, é mais fácil para o eleitor ter contato com notícias de diversos espectros sem ficar restrito àquilo que é veiculado pela grande mídia. Ainda que esta última detenha o controle das próprias notícias, selecionando a matéria que lhe convém, com a internet o eleitor tem maiores chances de democratizar o debate em torno de cada campanha.

Como sabemos, em uma democracia, opiniões diferentes e até contraditórias são parte do jogo. Faz-se necessária uma discussão que possibilite aos cidadãos uma leitura ampla da própria realidade, encontrando divergências e convergências, dialogando e tentando discutir como melhorar a vida comum a eles. A política, numa democracia, cuida do que é de todos, abrindo espaços de diálogo entre os cidadãos e garantindo liberdade e igualdade de expressão. O objeto da política é o bem comum.

Lamentavelmente, o que vemos nas últimas semanas na internet e na grande mídia não corresponde exatamente à descrição acima. Assistimos a uma onda difamatória e caluniosa capaz de criar um racha na consciência e na memória brasileira, incitando o ódio a quem se declare a favor da candidatura de Dilma. É impressionante como na grande mídia (refiro-me aos principais jornais e revistas) é difícil encontrar alguma matéria positiva à respeito da candidata do governo, Dilma Roussef. Querem ludibriar o povo brasileiro e fazê-lo acreditar que José Serra é o santo, o cristão, o abençoado, ou o "homem de bem", enquanto que à Dilma são associadas as imagens de "assassina", "bandida" e "matadora de criancinhas". É a "mulher do mal" contra o "homem de bem". Estou indignado com tanta farsa e tamanha baixaria!

O meu consolo é que a democracia hoje só tem a ganhar com meios como a internet, de modo a não se intimidar com a força paranóica e ultra-conservadora da grande mídia. Posso, mesmo distante do Brasil, estar à par do que acontece, indignar-me e fazer chegar a todos os que conheço a minha indignação. O curioso é que em meio às minhas manifestações, já fui chamado de tendencioso e imparcial, mas, se analisarmos com profundidade a realidade atual da discussão, imparcial é um jornal como a Folha de São Paulo que publica na capa de sua edição de 12/10 uma foto onde Dilma não faz o sinal da cruz em uma celebração. Imparciais são os meios que publicam uma foto de José Serra beijando o crucifixo de um rosário em plena carreata, em Goiás. Em suma, imparcial é quem não se abre ao diálogo e não permite a discussão de temas mais sérios do que fofocas e difamações. Onde existe manipulação e calúnia, não existe espaço para a liberdade, rompendo com isso a própria lógica da democracia.

Contra esse tipo de absurdo continuarei a me manifestar, certo de que posso exercer o meu direito de cidadão, alertando os desvios e fomentando um debate justo e verdadeiro em torno do que realmente interessa para o Brasil. Nos meus perfis do Twitter, do Facebook e do YouTube tenho discutido intensamente sobre estas questões. Convido a todos a fazerem o mesmo, intensificando o debate eleitoral.

Viva a internet e a liberdade!


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12.10.10

Refletindo sobre o segundo turno das eleições 2010

É preocupante o rumo que as eleições tomou no nosso país, sobretudo no período do segundo turno. A igreja entrou no meio da discussão divulgando o apoio de muitos bispos ao PSDB alegando que o PT está institucionalmente engajado na implantação da cultura da morte, dado que possui itens em seus estatutos que apontam nessa direção. Por outro lado, esquecem-se de dizer que a política neoliberal, típica do PSDB, é também favorável a descriminalização do aborto, ainda que não o afirmem por meio de estatutos. Para confirmar este dado nos é necessário somente observar a política vigente em outras nações de base neoliberal, onde o aborto e a tão temida cultura de morte já é lei. Acrescento que as Nações Unidas, como bem recordam alguns bispos brasileiros, também se mostram favoráveis a tal cultura. Não nos esqueçamos que o próprio José Serra, quando era ministro da saúde do governo de FHC, assinou medidas a favor do aborto.

O que quero argumentar com isso?
Simplesmente que não podemos tomar como base para o nosso voto consciente somente um lado da moeda e julgar uma só candidatura como se a outra nada tivesse a dizer à respeito deste assunto. Ademais, a "guerra santa" propagada no embate do segundo turno chegou ao extremo e cada candidato/partido quer se mostrar mais cristão do que o outro, criando imagens destrutivas do rival como se um fosse amaldiçoado e o próprio abençoado. Além de revelar uma grotesca hipocrisia em ambos. Vi, estarrecido, imagens do candidato José Serra beijando a cruz de um rosário em uma carreata no Estado de Goiás. Imagens de momento, onde prevalece o apelo (eu diria também suplício) aos votos cristãos. De outro lado, a candidata Dilma Roussef também aparece em igrejas com mais freqüência, como mostram imagens recentes do Santuário de Aparecida, em São Paulo, e tem afirmado com mais veemência o que antes não dizia em público.

Não entremos nessa guerra santa como se um fosse melhor do que outro considerando somente este viés. Ambos os candidatos e seus respectivos partidos não podem ser pensados somente sobre este pontos de vista porque não mostram coerência em seus discursos e práticas. Sem falar que estes temas não são unanimidade entre os membros de ambos os partidos, havendo membros que pensam o contrário do que os partidos pregam. No que toca o ponto de vista religioso, ambos se anulam e, portanto, este não é um ponto que nos traz boas possibilidades de reflexão. Em matéria de aborto e cultura de morte, o que vemos é o sujo falando do mal lavado.

Preciso acrescentar que nenhum dos dois candidatos me agradam particularmente, no entanto não posso ficar alheio a este debate. Como então pensar o que seja melhor para o nosso país?

Pensemos no projeto de país. Não nos esqueçamos do que cada partido foi capaz de realizar e de qual política realizam. Vamos colocar na balança os resultados dos projetos de cada candidato/partido e discutir as verdadeiras diferenças entre eles. A partir dessas diferenças, podemos avaliar o nosso voto e saber quem realmente representa o melhor para o nosso país.

Para quem desejar, compartilho o link da nota oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) sobre o assunto, bem como da nota oficial da CBPJ (Comissão Brasileira de Justiça e Paz), ligada à CNBB.


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20.9.10

A África por ela mesma

É possível que um continente de grandes proporções como a África ainda precise de um sistema de comunicação capaz de fazer circular as notícias escritas ali? Sim, é um fato real. Infelizmente, a África é para muitos um continente desconhecido e ignorado e lá dentro ainda há muito por ser feito de modo a garantir uma melhor qualidade de vida. Dentro do fenômeno da globalização, um dos elementos hoje relevantes para não se isolar do resto do mundo é uma boa comunicação, mas não quero aqui me referir somente à comunicação que chega de fora, com notícias de outros países ou mesmo com notícias sobre a África mas veiculadas por agências de outros continentes. Quero destacar a importância da comunicação que circula lá dentro e que é elaborada por eles mesmos.

Não é de hoje que a África e seus países tentam sair da exploração proveniente de outros continentes e ainda vemos marcas da dominação sofrida ali, uma delas é a da comunicação de massa. Tal dominação ocorre sobretudo em virtude da carência de meios próprios para a produção e veiculação de notícias, da falta de profissionais com boa formação e da precária infraestrutura. Como já destacado, o continente deve desenvolver sempre mais a sua própria comunicação de modo a mostrar ao mundo a sua verdadeira face. Isso deve ser feito por eles mesmos, ainda que experiências de pessoas ou entidades estrangeiras à esta terra sejam válidas.

Hoje, no TEDxIUSstudents, evento com o qual colaborei, tive a oportunidade de conhecer a experiência do jornalista italiano Riccardo Barlaam em um projeto realizado por ele na África, mais precisamente na República dos Camarões. Este projeto consiste em formar jornalistas e proporcionar a troca de notícias entre eles através de um canal comum, possibilitando um contato com a realidade africana a partir de jornalistas africanos. Desta formação e desta troca de notícias nasceu o portal AfricaTimesNews, que em poucos meses de vida alcançou uma média de 30.000 leitores mensais. Parece ser uma idéia simples, mas permite que aquela gigantesca comunidade de povos e nações se revele.

Eis aí o que mais me chama a atenção neste projeto: o fato de poder formar pessoas que possam comunicar a própria realidade antes de mais nada a elas próprias, e, simultaneamente, a todo o resto do mundo. Daí decorrerá, não tenho dúvidas, a necessidade de desenvolver ainda mais esta comunicação, agregando mais qualidade ao seu conteúdo e proporcionando uma maior integração dos próprios africanos através de suas próprias notícias.


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