Textos e reflexões de Rodrigo Meireles

20.4.12

Sonho

Abro os olhos
levanto a vista
e sonho...


...expondo a vitrine
de eu mesmo
em sonho...


...de imagens superpostas
e segredos desvendados
no sonho...


...infindável.
Fecho os olhos

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17.4.12

Na Casa dos Excelentíssimos

Sentados à minha frente, para além do vidro transparente, estavam algumas pessoas trajando roupas elegantes, algumas fazendo gestos finos e pausados, outras fazendo gestos mais vorazes. Uma delas estava de pé, com papéis na mão, e falava alto para todas as demais ouvirem. Eu não entendia por que ela precisava falar tão alto, já que à sua frente havia um microfone. Era o som captado por este aparelho que possibilitava a minha escuta, pois eu estava fora da prestigiosa sala e ouvia apenas através de uma caixa de som afixada na parede do pequeno compartimento que me abrigava. Em meio às palavras emitidas, após  digníssimos elogios e tantas condolências, queixas e denúncias eram marcantes; escutei verbos fortes que pareciam impor cada vez mais o silêncio alheio que aos poucos se estabelecia no lugar. Os outros apenas se entreolhavam, sérios e aturdidos; alguns cochichavam, mas os demais nada falavam e nada faziam.

Estava eu sentado em um lugar onde, em alguns minutos, pude notar a interessante dinâmica entre as pessoas dali. É um lugar onde os centros das atenções estão constantemente sendo modificados, conforme o desenrolar das situações vividas e dos discursos ouvidos. Ouvem-se clamores de idéias, defesas de teses que não podem ser contestadas ou desviadas de seus interesses originais, além de ironias com traje de respeito e atitude democrática. Mesmo os sorrisos são brilhantes e cheios de uma força capaz de esconder quem está por trás. Cada sujeito, ao seu modo, procura conquistar mais olhares para si, fazendo o mínimo de barulho necessário, e compra os sorrisos camuflados com atitudes verbais contundentes. Alguns são mais tímidos e outros até assustam, mas se entendem em prol de uma eterna convivência na casa dos excelentíssimos.

As personalidades ali presentes estão carregadas dos mais diversos pronomes de tratamento. Não são mais fulano e fulana de tal, mas excelentíssimo senhor fulano de tal ou excelentíssima senhora fulana de tal. Os senhores desta casa não são meros senhores, mas vossa senhoria é o novo título deles. As palavras rebuscadas carregam em suas letras formações pouco utilizadas para além daqueles muros e o dicionário parece ser um dos livros oficiais adotados. Falar desse modo dentro dessa famosa casa já virou clichê, servindo mesmo de código interno, para o azar dos não-simpatizantes desta linguagem tão prolixa. Talvez ali seja possível entender porque uma das coisas mais fáceis que há na vida seja complicar o que é simples, ou simplesmente de reverter o que nos é dado.

Um sujeito aperta a mão do outro em sinal de respeito, acordo e concordância, muito embora tal respeito, acordo e concordância em tantas vezes não lhe diga respeito. Isso me levou a entender instantaneamente que o respeito ao outro parecia ser o que mais existia dentro desta casa, mas entre os cochichos praticados aqui e acolá pelos mesmos excelentíssimos respeitosos que se apertaram as mãos pareciam esconder alguma coisa que aquele respeito formal não me deixou perceber. Qualquer desentendimento que surgisse era como fogo em palhoça; apagá-lo ali dentro não era difícil, pois eram desfeitos no intercâmbio de sorrisos entreabertos por entre as mesas e cadeiras da sala principal daquela casa.

Enquanto tudo isso acontecia, eu continuava sentado na minha cadeira, assistindo a este grande espetáculo que acontecia bem na minha frente, mesmo se parecia tão distante. Eu me sentia uma formiga em meio aos elefantes. Logo eu, com meu traje simples em meio às elegantes vestimentas. Logo eu, que antes de chegar ali parecia ter tanto a dizer. Definitivamente, levantei-me de onde eu estava sentado, e, despedindo-me silenciosamente, pensei comigo mesmo: “esta casa não é minha...”



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14.4.12

Xingu: entre índios e brancos

Mergulhe na aventura dos irmãos Villas-Boas e se encante com a beleza de nossas florestas enquanto descobre o triste destino das tribos indígenas que povoam a região. O filme Xingu, dirigido por Cao Hamburguer, retrata a história real dos irmãos Villas-Bôas desde o tempo em que foi convocada a "Marcha para o Oeste". Eles adentraram o Brasil para demarcar território, conhecer a área e verificar quem habitasse a região. Foi assim que encontraram os índios e começaram a se relacionar com eles. Após longas décadas de convívio, passaram a defender os direitos daqueles habitantes, pouco considerados pelo governo. Em meio a muita luta e a muita negociação, foi criado o Parque Indígena do Xingu, que resiste até hoje apesar das muitas ameaças de fazendeiros, ruralistas e madeireiros.

O filme revela uma belíssima fotografia, além de retratar a situação dos índios, desconhecidos do mundo ocidental e desde então cada vez mais dizimados, desrespeitados e ignorados pelo progresso tecnológico e industrial. Apesar da criação do Parque Indígena do Xingu, da FUNAI e de inúmeros benefícios ou leis de proteção ao índio, a verdade é que estas culturas ancestrais que marcam antropologicamente o nosso povo vivem com o descaso (e a ignorância) da opinião pública geral, sobrevivendo com "migalhas legais" e com as próprias forças. A construção da Usina de Belo Monte é só um exemplo desse descaso.

Confira e trailer e curta o filme!



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13.4.12

Você vai tomar consciência ou mais um drink?

Até quando vamos tolerar a impunidade no trânsito? Freqüentemente, os vários meios de comunicação divulgam estatísticas acerca dos acidentes de trânsito e não é difícil perceber que a maioria desses acidentes estão associados ao consumo de bebidas alcoólicas. Não é por falta de conhecimento que esses acidentes acontecem. Todavia, mesmo com a criação da lei seca e mesmo com todas as campanhas realizadas, muitas pessoas insistem em dirigir com álcool no sangue. Muitos motoristas fazem isso porque sabem que não serão punidos. Se são de famílias abastadas, "estranhamente" livram-se da burocracia policial e criminal. São muitas as denúncias de motoristas com pontos além do limite na carteira de habilitação que continuam impunes, continuando a dirigir e a cometer os seus atos ilícitos. Enfim, sem fiscalização e sem punição, tudo continua na mesma, ainda que sejam investidos rios de dinheiro em campanhas.

É preciso deixar claro que a responsabilidade pela direção de um veículo é do motorista, que deve saber dos riscos de dirigir alcoolizado. Ainda que este se considere um "Ás" no volante, o risco continua e a probabilidade de um acidente aumenta exponencialmente de acordo com a quantidade de álcool no sangue. Portanto, não dá para dizer que um acidente causado por um motorista alcoolizado foi ocasional. O motorista poderia ter evitado, portanto, deve ser responsabilizado pela sua livre escolha em dirigir enquanto estava alcoolizado.

É por esse motivo que apoio e reforço a campanha "Não Foi Acidente!" divulgando o abaixo-assinado para ser entregue no Congresso Nacional o "Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre Crimes de Trânsito que Envolvam a Embriaguez ao Volante". Precisamos de 1.300.000 assinaturas para que este projeto tenha força no Parlamento e revolucione a forma de lidar com este problema. Para conhecer mais sobre a campanha e assinar a petição, clique no link abaixo.



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7.4.12

O Lorax e a consciência humana

Recentemente, estreou no cinema a animação "O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida", produção infantil que destaca o cuidado com o meio ambiente e os perigos da ganância humana. É um excelente filme para assistir com os pequenos, dialogar com eles sobre estes cuidados e reforçar a consciência por um mundo melhor, a começar por cada um.

O filme conta a estória de Ted, um garoto que, ao tentar realizar o desejo de Audrey, a garota por quem se apaixona, descobre o mundo devastado e dominado no qual vive. Ele mora numa cidade de plástico, onde tudo é aparentemente perfeito. Os moradores da cidade não imaginam que vivem uma vida de fachada, cuja alegria se resume a plásticos coloridos e tecnológicos. Quando Ted descobre que o desejo da garota de seus sonhos é uma árvore de verdade, ele inicia a procura e descobre que fora da cidade de plástico não há mais nada além de um mundo devastado e cinzento. É assim que ele conhece a história de seu planeta e se dá conta de como este chegou àquele estado. Lorax é uma criatura rabugenta que tenta proteger o mundo e a vida. Ele tenta conscientizar os homens da importância de preservar a natureza, mas a ação do homem, na sua liberdade, é sempre decisiva para o desenvolvimento do planeta e de tudo o que a vida nos deu.

É importante destacar que o filme retrata de maneira direta alguns problemas comuns ao homem de hoje, como a busca pelo sucesso financeiro em detrimento do meio ambiente, os perigos dos monopólios, o poder e o controle sobre as pessoas. A cidade de plástico onde mora Ted e sua família é totalmente vigiada por câmeras, que acompanham cada movimento, e é controlada por um magnata, O'Hare, que vende ar puro. Em um ambiente devastado, sem árvores, este magnata se aproveita da situação e das pessoas para possuir e manter o poder. É muito clara também a história da devastação, fruto da ambição de um outro homem, que queria ser rico e orgulhar a sua família. Lorax tentou contê-lo, mas o homem escolheu devastar. Quando matou a última árvore entrou numa profunda depressão e não havia mais como ganhar a sua riqueza. O garoto Ted, porém, mostra que é possível acreditar em um mundo melhor. Com coragem, ele leva para a cidade de plástico a última semente de árvore que se tem notícia. Para plantá-la, enfrentou o poder do magnata e o conformismo das pessoas, que pareciam tão de plástico quanto a cidade em que moravam.

Vale à pena assistir! Afinal, é diversão garantida para a criançada com direito a boas reflexões acerca da consciência ética humana.




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5.4.12

A Cruz

É manifesta, perceptível e clara,
em tantos impulsos, sinais e evidências,
a dimensão outra da face humana
envolta na sutileza do amor


No caos que a todo instante se declara
um brilho contrasta os focos de violência
De onde mais essa luz emana
senão da Cruz, em plena dor?


Tão cara quanto uma pedra rara
despeja sentido no calor das experiências
expõe seu abraço e não engana
quanto à profundidade do Amor


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