Textos e reflexões de Rodrigo Meireles

27.12.12

Amar - Carlos Drummond de Andrade

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

Continue lendo

18.12.12

28.10.12

A Política

O futuro é hoje, vivo e atualizo isso no meu dia-a-dia. Não obstante as tantas dificuldades, as disputas, os confrontos (tantas vezes feito de maneira forçada e apelativa, até violenta), vejo-me muitas vezes sem forças para ir adiante e me sinto pequeno diante de todas essas coisas. O mundo é muito maior do que eu. Contudo, a cada pessoa que me procura, a cada energia que dispendo na escuta ativa de algum sofrimento, a cada olhar perdido que encontro, descubro que mesmo pequeno não existo à toa e não sou em vão. Posso amar e me encontrar naquele outro. Posso crescer e ampliar o meu olhar em um tu que, por alguns minutos, também sou eu, imerso neste mundo e na existência. Esta é a minha experiência diária, que procuro renovar a cada novo raiar do sol. Esta é a minha Política.

Contudo, esta Politica se estende para além de mim. Forma grupos, instituições, organizações em prol de algo comum. Eis que temos também os partidos, eis que temos ainda os interesses e as conveniências, alimentadas pelas ideologias. Eis que temos a democracia, mesmo em suas contradições ou incompletudes. Eis que temos o futuro, no presente cheio de conflitos e em crise e que suscita novos movimentos, novos olhares e novas formas de ação. Se apenas fazemos leitura de momentos, corremos o risco de cairmos constantemente na espiral hegeliana, em que tudo flui e se atualiza historicamente, não importa como e para onde. Não, não vejo que a Política seja uma coisa de momento, acredito ser este um erro hermenêutico. Penso na Política inserida na cultura, de forma anterior a ela, mas que ocorre mesmo "distorcida" pelos fatos. Não é mera criação dos homens para uma vida social, mas fundamental e necessária para sua sobrevivência, no seu ethos.





Continue lendo

24.10.12

Piccolo

Piccolo. Forse non trovo altro modo di descrivermi dinnanzi alle situazioni che trovo nel mio quotidiano. Sia nel lavoro sia camminando sulle strade della città, mi sembra di vedere la distruzione della vita e dei rapporti personali a nome di interessi particolari o di un supposto potere. È certo che non posso generalizzare, ma è sintomatico vedere nella gente le parole già previste da Nietzsche e approfondite da Heidegger sul nostro tempo e il suo vuoto, il buio culturale.

La violenza è diventata banale. Non importa se uno muore e come muore. La politica mantiene gli stessi vizi lungo gli anni. Anche se cambiano le persone, continua la stessa, con qualche rara novità. Il mercato continua a dettare le regole del gioco con la sua supposta mano invisibile ed ancora influisce sui comportamenti delle persone. La gente continua a preoccuparsi con le proprie vanità e a perdere la fiducia nell'altro, che tante volte rappresenta una minaccia ai propri interessi. Persino la gente che va nelle chiese sembra cantare lodi vuote, come se sperasse che qualcosa accada magicamente dai cieli.

Può darsi che per qualche regola ci sia un'eccezione, ma sono ancora poche dinnanzi a questo complesso sistema di avvenimenti. Per cambiare questo ci vuole il coraggio per illuminare il nostro tempo con l'Amore vero, incondizionato e fraterno. Non possiamo permettere che il senso delle cose si svanisca davanti ai nostri occhi e rimaniamo attoniti, senza parole o azioni concrete, ad aspettare la fine.

Sono piccolo e a volte mi sento da solo in quest'impresa, ma posso realizzare il poco che mi definisce e collaborare con la piccola porzione di umanità che mi è stata affidata e con la quale mi trovo, anche se casualmente, giorno dopo giorno. Spero di scoprire in ogni persona un altro Volto, che mi permetta di descrivere la speranza e le tracce di un altro modo di vivere (non limitato a pochi, ma comune a molti), di un mondo libero, fraterno e dove regni la pace.

Rimango piccolo, ma, come un seme, posso germinare e rendere frutti incalcolabili nel poco che sono, se mi lascio guidare dall'Amore vero. È difficile, ma in quest'utopia trovo un cammino.



Continue lendo

9.10.12

Comédia Intocável!

Se você aprecia uma boa comédia, sem apelações e com um toque de profundidade, assista o filme "Intocáveis" (França, 2011). O grande sucesso francês do momento é uma comédia bem elaborada, baseada em fatos reais, que destaca o relacionamento entre um personagem da periferia e um milionário tetraplégico.

Em divertidos encontros, o filme revela o desenvolvimento de uma amizade sincera, autêntica e espontânea entre dois personagens de origens bem distintas, que resulta em ótimas gargalhadas. O que chama atenção nesta comédia é o fato de  que para rir não é preciso apelar para o ridículo, destacando a profunda e sincera relação que nasceu entre os dois. Os personagens revelam-se sem máscaras e realizam um encontro cheio de contrastes em que ambos permitem se conhecer e aceitar as diferenças. Tudo, porém, com bastante leveza, música e ação.

O roteiro foi inspirado na vida do milionário tetraplégico Philippe Pozzo di Borgo e de seu enfermeiro, Abdel Selou (representado no personagem Driss). O primeiro escreveu um livro intitulado "O Segundo Suspiro", registrando cada frase em um gravador. Ainda vive na França com a família, mas o seu fiel companheiro casou-se há oitos anos, teve três filhos e mudou-se para o Marrocos. Com a própria história, eles mostram para o mundo de hoje que é possível superar as dificuldades, construir uma sólida amizade e ter uma vida feliz.





Continue lendo

3.10.12

O tempo nos desfolha - Francisco Carvalho

Foto de Fabiana Guimarães.
O tempo nos desfolha
com sua foice de murmúrios

somos o rebanho de cabras
pastando o caos

somos os tufos de relva
nas frestas da rocha
batida pelo mar

onde a nau de Ulisses
ainda ancora

somos a escória do mito
a rota em que navega
a nossa penúria.


In: Carvalho, Francisco. Jornal de Poesia.
Continue lendo

4.9.12

Fé e Vida

É bem verdade que ter fé é crer. É ter "a convicção de fatos que se não vêem" (Hb, 11:1). É escutar e acreditar em fatos que virão. Porém, o ato de ter fé não pode ser confundido com espera sem vida. Requer ação, dedicação e transformação. Quem apenas espera, mantém-se alheio ao contínuo  processo criativo, próprio de sua natureza. Ter fé não é esperar, é acreditar em algo maior e viver conforme o que acredita, buscando-o incessantemente.

Nas Sagradas Escrituras encontramos uma belíssima carta de testemunhos sobre a fé no livro dos Hebreus, todos demonstrando como seguiram o que acreditaram. Abraão, Abel, Enoque, Noé e Sara, dentre outros testemunhos, tiveram fé. Nenhum deles, porém, apenas acreditou e esperou. Fizeram sacrifícios, percorreram caminhos desconhecidos e acreditaram em fatos logicamente impossíveis porque acreditaram e se lançaram na fé.

Também no Evangelho de Marcos encontramos um testemunho de fé quando uma mulher tocou as vestes de Jesus porque acreditara que aquele gesto a curaria. Sentindo que algo acontecera, Jesus encontrou-a em meio à multidão e disse: "Filha, a tua fé te salvou; vai em paz, e sê curada deste teu mal" (Mc 5: 34). Também neste episódio não houve espera. A mulher acreditou e foi ao encontro de Jesus.

A fé é também sinônimo de confiança em algo maior e invisível, que nos liberta e nos permite viver para além do que vemos, tocamos e sabemos. A fé nos salva porque nos permite acreditar que há algo maior pelo qual viver e pelo qual dar a própria vida. Com a fé, é possível ir além de si para amar, transcendendo-se. Desta forma, se alguém que acredita em Jesus apenas espera milagres, nada entendeu sobre a própria fé. Para estes, ter fé é muito fácil e cômodo, pois apenas acreditam, mas não saem da própria zona de conforto e não se lançam no que acreditam, isto é, não amam. A fé nos convida a amar. Se alguém acredita em Jesus e quer que Ele se manifeste, precisa ir ao encontro dele através do amor. Afinal, disse Jesus, "(...) aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele" (Jo 14:21).

Assim, ter fé não é apenas acreditar, pois requer ação, requer amor. Amar é "ir ao encontro de", doar-se, transcender-se. Não se faz isso apenas com palavras, louvores ou com a mera devoção, mas com atos concretos. Ter fé, portanto, requer viver com o horizonte aberto e lançar-se, mesmo na escuridão, naquilo em que se acredita. Fé e vida, confiança e amor, emunah e ahavaη πίστη e αγάπη, são conceitos inseparáveis e não podem ser plenamente compreendidos e vividos distintamente.


Continue lendo

27.8.12

50 anos de Psicologia no Brasil

Há exatos 50 anos, a Psicologia foi regulamentada como profissão no Brasil com a Lei 4.119/62. Desde então, novos cursos de graduação foram instituídos e a profissão cresceu, marcando presença em praticamente todos os espaços de trabalho que envolvem pessoas. Com o reconhecimento sempre crescente acerca deste saber e suas práticas, certamente esta profissão poderá crescer ainda mais, alcançando mais pessoas e melhorando a qualidade de vida da população brasileira.

O trabalho exercido pelos profissionais de Psicologia, hoje presentes em todo o Brasil, é de grande relevância para o bem-estar social e para a garantia da dignidade e da vida de cada cidadão. As psicólogas e os psicólogos atuam nas clinicas, nas escolas, nas empresas, nas organizações comunitárias, nos hospitais, nas unidades básicas de saúde, nos fóruns e tribunais, em entidades esportivas, nos departamentos de trânsito, em centros de pesquisa, nas universidades e em todos os lugares onde se faça necessária a garantia da harmonia e da convivência entre as pessoas.

Entendemos que é cuidando das pessoas que fortalecemos o nosso país. Portanto, é notório o reconhecimento das pessoas quanto à importância dos profissionais de Psicologia, assim como é também notório o aumento da oferta de cursos de graduação e pós-graduação em Psicologia em todo o país nos últimos anos. No entanto, há ainda alguns avanços que precisamos conquistar em prol do pleno reconhecimento e do pleno exercício desta profissão. Entre estes avanços, destaco que se faz necessário:

(1) Regulamentar um piso salarial que seja digno e condizente com o trabalho exercido; 
(2) Regulamentar a carga horária máxima semanal, evitando sobrecargas; 
(3) Regulamentar a inserção obrigatória dos profissionais de Psicologia em todas as unidades de ensino, públicas e privadas, garantindo cobertura a todos os estudantes;
(4) Regulamentar a inserção obrigatória destes profissionais em todas as unidades básicas de saúde, garantindo escuta qualificada, melhorando a qualidade de vida, reforçando a prevenção de doenças e diminuindo os impactos de ocorrências mais graves;
(5) Expandir a implantação de mais Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em todo o país e fortalecer as redes de saúde mental, dando continuidade à reforma psiquiátrica, fortalecendo os vínculos comunitários e evitando modelos higienistas de tratamento;
(6) Garantir a realização de concursos públicos com vagas destinadas aos profissionais da Psicologia;
(7) Garantir acesso a atendimento clínico, público e de qualidade, a toda a população brasileira.

Ao longo de 50 anos, percebemos que temos muito a comemorar e muito mais a fazer e sabemos que esta conquista não se restringe aos profissionais de Psicologia, mas a toda a sociedade brasileira! Portanto, todos podemos comemorar e se manifestar em prol de mais qualidade no ensino e no exercício desta profissão, além de apoiar iniciativas por melhores condições de trabalho.

Por isso e por muito mais, PARABÉNS Psicólogas e Psicólogos!




Continue lendo

26.8.12

Ser cidadão sempre!

No próximo dia 7 de outubro, estaremos todos nas urnas para escolher o prefeito de nossas cidades. Para isso, devemos saber fazer a nossa escolha de modo consciente e participativo, conhecendo cada candidato através de suas propostas e suas articulações. Contudo, é preciso destacar que as eleições não se resumem a um simples voto. O processo eleitoral é parte do exercício da cidadania, que deve ser vivido antes, durante e após as eleições. Ou seja, nós, cidadãos, não podemos ficar passivos e esquecer da nossa importância para a cidade nem mesmo depois das eleições. Uma vez efetivada a escolha coletiva, com o resultado das urnas, temos de conhecer as ações da prefeitura e nos posicionar através de nossas críticas, sugestões e denúncias. Como já diria Betinho, o verdadeiro cidadão se manifesta, escolhe e participa!

Portanto, não basta selecionar um número e digitar na urna eletrônica. Dê a sua sugestão, faça a sua crítica de como está a sua cidade, defina a sua posição e após as eleições participe ativamente das ações da prefeitura através dos espaços já constituídos ou criando espaços para diálogo. As associações comunitárias são excelentes exemplos de espaços para este diálogo e para possíveis articulações. Além disso, também é possível alimentar as redes sociais, cobrar do prefeito eleito a realização de suas propostas e participar dos fóruns abertos pelo poder público ou pelas redes e associações civis para que sejam definidas as políticas necessárias para a cidade. O bem comum só é possível quando, juntos, buscamos o que queremos.

Manifeste-se, escolha e participe!


Continue lendo

19.8.12

Drogas e Cidadania

O Conselho Federal de Psicologia desenvolveu um portal na internet para esclarecimento das ações acerca das drogas, seus efeitos e tratamentos destacando que qualquer usuário é também um cidadão e precisa ser antes de tudo respeitado. Só teremos uma sociedade que viva bem se sabemos reconhecer em cada pessoa um cidadão, mesmo se este está precisando de ajuda e clama por socorro. Nos últimos meses, temos assistido a uma onda de intolerância aos usuários de drogas ilícitas, que estão sendo varridos das ruas numa reprise do modelo higienista como se fossem os únicos culpados por este problema. Tolerância e respeito são palavras-chave para qualquer encontro e sem estas palavras, qualquer usuário de drogas não passa de um ladrão ou de um vagabundo. Com tolerância e respeito, é possível escutar as necessidades de cada um e promover encontros saudáveis entre cidadãos e políticas públicas integradas.

Convido você a assistir uma sequência de 5 (cinco) pequenos vídeos especialmente preparados pelo Conselho Federal de Psicologia para esta discussão. Todos eles estão disponíveis no site Drogas e Cidadania. Recomendo!



Continue lendo

18.8.12

O perigo da medicalização

Recentemente, a psiquiatra Analice Gigliotti publicou um texto na Folha de São Paulo intitulado "A Última Lição de Chico Anysio" no qual destaca a preocupação de Chico Anysio em relação ao preconceito contra as pessoas com transtornos mentais e a sua recomendação para que os medicamentos psicotrópicos sejam disponibilizados à população mais pobre do Brasil. A autora reforça o pensamento do ator denunciando o que seria a falta de socorro aos doentes mentais do Brasil, que não teriam fácil acesso a medicamentos deste tipo. Discordo veemente!

O melhor socorro aos doentes mentais no Brasil não é o aumento da oferta de medicamentos, haja vista que o consumo de medicamentos psiquiátricos já é alto no Brasil e pouco resolve. O melhor socorro é o ampliamento das redes de apoio social, com atendimentos diversificados, personalizados e de qualidade. Concordo com Chico quanto ao preconceito psicofóbico ainda existente, mas discordo da afirmação de que o medicamento é a única solução para a depressão e outros transtornos mentais. É preciso destacar que medicamentos psiquiátricos não curam nada, apenas amenizam sintomas. É por isso que precisam ser administrados com doses controladas e muitas vezes por toda a vida. Se curassem, haveria um fim. É fato que tais medicamentos ajudam e são importantíssimos em muitos casos, mas sozinhos não resolvem nada, pois estão a melhorar os incômodos que certos sintomas causam, tais como tremedeiras, palpitações excessivas, alucinações, insônia, falta de apetite, dentre outros. Esse é o erro da psiquiatria moderna: acreditar que podem tratar das doenças mentais como se trata uma dor de cabeça, na lógica do "tomou doril a dor sumiu!". No meu entender e na minha experiência, defendo que, para além da doença, é preciso ir ao encontro da pessoa; somente ela é capaz de mudanças significativas.

Para melhor refletir sobre o tema, convido vocês a assistir o vídeo "Medicalização e Sociedade" que trata do tema com simplicidade e maestria. Indico ainda o site medicalizacao.com.br para mais informações.



Continue lendo

9.7.12

A ansiedade e seus possíveis incômodos

Por princípio, a ansiedade é normal, pois é um conjunto de reações orgânicas que preparam o corpo a algo, real ou imaginário. É como se o corpo canalizasse energia para a realização de algo que se espera ou mesmo para se proteger de algo que amedronta. Assim, todas as pessoas já viveram algum momento de ansiedade, seja quando algo muito aguardado está para acontecer, seja com um risco iminente. Alguns sinais bastante comuns  nesses momentos são: inquietação, preocupações constantes, medo, palpitações e tremores. Um ator que prepara uma peça teatral também sente alguma ansiedade, por mais espontâneo que ele seja. É por isso que precisa se preparar bem e ensaiar bastante antes de cada cena, pois quando se sente mais seguro consegue vencer com facilidade os riscos de possíveis erros. O mesmo acontece com uma pessoa que vai para uma entrevista de emprego ou ainda com alguém que se prepara para o nascimento do primeiro filho e mesmo com alguém que caminha na rua sentindo-se inseguro. Estão para acontecer eventos bastante significativos na vida dessas pessoas, o que pode gerar muita expectativa e ansiedade. Todavia, enquanto esta ansiedade permitir uma mobilização e uma preparação da pessoa para tais eventos, podemos considerá-la como positiva. O problema surge quando esta ansiedade é excessiva e atrapalha as suas atividades normais.

Quando a ansiedade se torna um problema mais sério e preocupante? Quando a sua intensidade, frequência e duração aumentarem e passarem a gerar sofrimento psíquico e até alguns sintomas. Ou seja, quando a ansiedade atinge um patamar que extrapola os limites de tolerância da pessoa e atrapalha o seu dia-a-dia. Com isso, a pessoa poderá desenvolver alguns hábitos que a incomodam no seu cotidiano, como preocupações excessivas e antecipatórias, hábitos de roer as unhas, arrancar os cabelos, irritações constantes e corriqueiras, além de sintomas psicossomáticos, como gastrite, acne e enxaqueca. Nestes casos, considera-se que a pessoa tem um transtorno de ansiedade, que deve ser bem avaliado por especialistas e devidamente acompanhado. Recomenda-se o acompanhamento através de psicoterapia e, a depender da intensidade e dos sintomas, de medicamentos.

Como viver com a ansiedade? O segredo de uma ansiedade positiva é saber viver bem cada momento, colhendo os frutos de cada minuto vivido. É saber dominar a própria dinâmica de vida, sem ser dominado pelas suas circunstâncias. Além disso, é sempre recomendado saber organizar bem o próprio tempo, deixando espaços para o descanso, atividades físicas e momentos de lazer.

A edição de hoje do programa Diário Divino, exibido na TV Diário, trouxe a ansiedade como tema e contou com a minha participação. Para quem não pôde assistir ao programa, divulgo aqui no blog o vídeo da edição e recomendo que se assista a este vídeo para complementar a discussão sobre a ansiedade e conhecer alguns casos comuns.



Continue lendo

20.4.12

Sonho

Abro os olhos
levanto a vista
e sonho...


...expondo a vitrine
de eu mesmo
em sonho...


...de imagens superpostas
e segredos desvendados
no sonho...


...infindável.
Fecho os olhos

Continue lendo

17.4.12

Na Casa dos Excelentíssimos

Sentados à minha frente, para além do vidro transparente, estavam algumas pessoas trajando roupas elegantes, algumas fazendo gestos finos e pausados, outras fazendo gestos mais vorazes. Uma delas estava de pé, com papéis na mão, e falava alto para todas as demais ouvirem. Eu não entendia por que ela precisava falar tão alto, já que à sua frente havia um microfone. Era o som captado por este aparelho que possibilitava a minha escuta, pois eu estava fora da prestigiosa sala e ouvia apenas através de uma caixa de som afixada na parede do pequeno compartimento que me abrigava. Em meio às palavras emitidas, após  digníssimos elogios e tantas condolências, queixas e denúncias eram marcantes; escutei verbos fortes que pareciam impor cada vez mais o silêncio alheio que aos poucos se estabelecia no lugar. Os outros apenas se entreolhavam, sérios e aturdidos; alguns cochichavam, mas os demais nada falavam e nada faziam.

Estava eu sentado em um lugar onde, em alguns minutos, pude notar a interessante dinâmica entre as pessoas dali. É um lugar onde os centros das atenções estão constantemente sendo modificados, conforme o desenrolar das situações vividas e dos discursos ouvidos. Ouvem-se clamores de idéias, defesas de teses que não podem ser contestadas ou desviadas de seus interesses originais, além de ironias com traje de respeito e atitude democrática. Mesmo os sorrisos são brilhantes e cheios de uma força capaz de esconder quem está por trás. Cada sujeito, ao seu modo, procura conquistar mais olhares para si, fazendo o mínimo de barulho necessário, e compra os sorrisos camuflados com atitudes verbais contundentes. Alguns são mais tímidos e outros até assustam, mas se entendem em prol de uma eterna convivência na casa dos excelentíssimos.

As personalidades ali presentes estão carregadas dos mais diversos pronomes de tratamento. Não são mais fulano e fulana de tal, mas excelentíssimo senhor fulano de tal ou excelentíssima senhora fulana de tal. Os senhores desta casa não são meros senhores, mas vossa senhoria é o novo título deles. As palavras rebuscadas carregam em suas letras formações pouco utilizadas para além daqueles muros e o dicionário parece ser um dos livros oficiais adotados. Falar desse modo dentro dessa famosa casa já virou clichê, servindo mesmo de código interno, para o azar dos não-simpatizantes desta linguagem tão prolixa. Talvez ali seja possível entender porque uma das coisas mais fáceis que há na vida seja complicar o que é simples, ou simplesmente de reverter o que nos é dado.

Um sujeito aperta a mão do outro em sinal de respeito, acordo e concordância, muito embora tal respeito, acordo e concordância em tantas vezes não lhe diga respeito. Isso me levou a entender instantaneamente que o respeito ao outro parecia ser o que mais existia dentro desta casa, mas entre os cochichos praticados aqui e acolá pelos mesmos excelentíssimos respeitosos que se apertaram as mãos pareciam esconder alguma coisa que aquele respeito formal não me deixou perceber. Qualquer desentendimento que surgisse era como fogo em palhoça; apagá-lo ali dentro não era difícil, pois eram desfeitos no intercâmbio de sorrisos entreabertos por entre as mesas e cadeiras da sala principal daquela casa.

Enquanto tudo isso acontecia, eu continuava sentado na minha cadeira, assistindo a este grande espetáculo que acontecia bem na minha frente, mesmo se parecia tão distante. Eu me sentia uma formiga em meio aos elefantes. Logo eu, com meu traje simples em meio às elegantes vestimentas. Logo eu, que antes de chegar ali parecia ter tanto a dizer. Definitivamente, levantei-me de onde eu estava sentado, e, despedindo-me silenciosamente, pensei comigo mesmo: “esta casa não é minha...”



Continue lendo

14.4.12

Xingu: entre índios e brancos

Mergulhe na aventura dos irmãos Villas-Boas e se encante com a beleza de nossas florestas enquanto descobre o triste destino das tribos indígenas que povoam a região. O filme Xingu, dirigido por Cao Hamburguer, retrata a história real dos irmãos Villas-Bôas desde o tempo em que foi convocada a "Marcha para o Oeste". Eles adentraram o Brasil para demarcar território, conhecer a área e verificar quem habitasse a região. Foi assim que encontraram os índios e começaram a se relacionar com eles. Após longas décadas de convívio, passaram a defender os direitos daqueles habitantes, pouco considerados pelo governo. Em meio a muita luta e a muita negociação, foi criado o Parque Indígena do Xingu, que resiste até hoje apesar das muitas ameaças de fazendeiros, ruralistas e madeireiros.

O filme revela uma belíssima fotografia, além de retratar a situação dos índios, desconhecidos do mundo ocidental e desde então cada vez mais dizimados, desrespeitados e ignorados pelo progresso tecnológico e industrial. Apesar da criação do Parque Indígena do Xingu, da FUNAI e de inúmeros benefícios ou leis de proteção ao índio, a verdade é que estas culturas ancestrais que marcam antropologicamente o nosso povo vivem com o descaso (e a ignorância) da opinião pública geral, sobrevivendo com "migalhas legais" e com as próprias forças. A construção da Usina de Belo Monte é só um exemplo desse descaso.

Confira e trailer e curta o filme!



Continue lendo

13.4.12

Você vai tomar consciência ou mais um drink?

Até quando vamos tolerar a impunidade no trânsito? Freqüentemente, os vários meios de comunicação divulgam estatísticas acerca dos acidentes de trânsito e não é difícil perceber que a maioria desses acidentes estão associados ao consumo de bebidas alcoólicas. Não é por falta de conhecimento que esses acidentes acontecem. Todavia, mesmo com a criação da lei seca e mesmo com todas as campanhas realizadas, muitas pessoas insistem em dirigir com álcool no sangue. Muitos motoristas fazem isso porque sabem que não serão punidos. Se são de famílias abastadas, "estranhamente" livram-se da burocracia policial e criminal. São muitas as denúncias de motoristas com pontos além do limite na carteira de habilitação que continuam impunes, continuando a dirigir e a cometer os seus atos ilícitos. Enfim, sem fiscalização e sem punição, tudo continua na mesma, ainda que sejam investidos rios de dinheiro em campanhas.

É preciso deixar claro que a responsabilidade pela direção de um veículo é do motorista, que deve saber dos riscos de dirigir alcoolizado. Ainda que este se considere um "Ás" no volante, o risco continua e a probabilidade de um acidente aumenta exponencialmente de acordo com a quantidade de álcool no sangue. Portanto, não dá para dizer que um acidente causado por um motorista alcoolizado foi ocasional. O motorista poderia ter evitado, portanto, deve ser responsabilizado pela sua livre escolha em dirigir enquanto estava alcoolizado.

É por esse motivo que apoio e reforço a campanha "Não Foi Acidente!" divulgando o abaixo-assinado para ser entregue no Congresso Nacional o "Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre Crimes de Trânsito que Envolvam a Embriaguez ao Volante". Precisamos de 1.300.000 assinaturas para que este projeto tenha força no Parlamento e revolucione a forma de lidar com este problema. Para conhecer mais sobre a campanha e assinar a petição, clique no link abaixo.



Continue lendo

7.4.12

O Lorax e a consciência humana

Recentemente, estreou no cinema a animação "O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida", produção infantil que destaca o cuidado com o meio ambiente e os perigos da ganância humana. É um excelente filme para assistir com os pequenos, dialogar com eles sobre estes cuidados e reforçar a consciência por um mundo melhor, a começar por cada um.

O filme conta a estória de Ted, um garoto que, ao tentar realizar o desejo de Audrey, a garota por quem se apaixona, descobre o mundo devastado e dominado no qual vive. Ele mora numa cidade de plástico, onde tudo é aparentemente perfeito. Os moradores da cidade não imaginam que vivem uma vida de fachada, cuja alegria se resume a plásticos coloridos e tecnológicos. Quando Ted descobre que o desejo da garota de seus sonhos é uma árvore de verdade, ele inicia a procura e descobre que fora da cidade de plástico não há mais nada além de um mundo devastado e cinzento. É assim que ele conhece a história de seu planeta e se dá conta de como este chegou àquele estado. Lorax é uma criatura rabugenta que tenta proteger o mundo e a vida. Ele tenta conscientizar os homens da importância de preservar a natureza, mas a ação do homem, na sua liberdade, é sempre decisiva para o desenvolvimento do planeta e de tudo o que a vida nos deu.

É importante destacar que o filme retrata de maneira direta alguns problemas comuns ao homem de hoje, como a busca pelo sucesso financeiro em detrimento do meio ambiente, os perigos dos monopólios, o poder e o controle sobre as pessoas. A cidade de plástico onde mora Ted e sua família é totalmente vigiada por câmeras, que acompanham cada movimento, e é controlada por um magnata, O'Hare, que vende ar puro. Em um ambiente devastado, sem árvores, este magnata se aproveita da situação e das pessoas para possuir e manter o poder. É muito clara também a história da devastação, fruto da ambição de um outro homem, que queria ser rico e orgulhar a sua família. Lorax tentou contê-lo, mas o homem escolheu devastar. Quando matou a última árvore entrou numa profunda depressão e não havia mais como ganhar a sua riqueza. O garoto Ted, porém, mostra que é possível acreditar em um mundo melhor. Com coragem, ele leva para a cidade de plástico a última semente de árvore que se tem notícia. Para plantá-la, enfrentou o poder do magnata e o conformismo das pessoas, que pareciam tão de plástico quanto a cidade em que moravam.

Vale à pena assistir! Afinal, é diversão garantida para a criançada com direito a boas reflexões acerca da consciência ética humana.




Continue lendo

5.4.12

A Cruz

É manifesta, perceptível e clara,
em tantos impulsos, sinais e evidências,
a dimensão outra da face humana
envolta na sutileza do amor


No caos que a todo instante se declara
um brilho contrasta os focos de violência
De onde mais essa luz emana
senão da Cruz, em plena dor?


Tão cara quanto uma pedra rara
despeja sentido no calor das experiências
expõe seu abraço e não engana
quanto à profundidade do Amor


Continue lendo

31.3.12

A Política e a Morte

Que o Senador Demóstenes Torres (DEM-GO) está "morto politicamente" poucos duvidam, mas o fato é que a política, tal como está, assiste a morte dos valores primordiais da democracia e da ética humana. Fere-se, a todo instante, a dignidade humana, o respeito à igualdade de direitos, a liberdade, a coerência e a verdade em nome de interesses privados e de uma incessante busca pelo poder. Com isso, a política não se revela como espaço de todos os cidadãos unidos em torno de um bem comum, é apenas um espaço de embates territoriais repleto de "toma lá, dá cá" no qual vence quem se associa ou se articula melhor.

Já não valem discursos pomposos que defenda a ética e o combate à corrupção, que o diga o Senador mencionado. Um homem de palavras tão diretas e cujo discurso se pautava pela afirmação da honestidade e do combate à corrupção agora se defende argumentando que as investigações feitas contra ele foram ilegais. Para além da legalidade ou não, há que se considerar que de um senador da envergadura de Demóstenes, líder da oposição no Senado, não se pode esperar negociações ilícitas de qualquer ordem, pelo bem da democracia e dos cidadãos, que legitimam a sua função. Se é verdade o que as acusações apontam, qualquer investigação é válida e não pode ser diminuída em virtude do cargo que se ocupe, uma vez que envolve favorecimentos a interesses limitados, apoio a práticas ilegais e enormes somas de dinheiro.

Não duvido que outros políticos estejam envolvidos neste escândalo, como não se duvida que muitos políticos estejam enrolados em práticas corruptas. Não é de hoje, dado que este mal nos persegue há séculos nos mais diversos recantos da humanidade. Contudo, é na política (ou através dela) que esta mesma humanidade pode sobreviver enquanto espécie, pois é pensando-se, coletivamente, que se descobre enquanto povos capazes de convivência. Matando a política, matamos os cidadãos, e a humanidade perde seu rumo. Portanto, matando os valores já amadurecidos e desenvolvidos por esta mesma humanidade, lentamente matamos a política e, assim, contribuímos para a morte de todos nós.

Exemplos como o citado acima são constantemente repetidos a cada dia, para além do quem, do onde e do como. São estes "exemplos" que afetam a esperança por mundo melhor de milhares de pessoas que apenas querem viver felizes e em paz. São "exemplos" que não queremos ver repetidos em nossa história, para que esta nos orgulhe e nos permita morrer tranquilamente. É hora de acordar e mudar esta política!


Continue lendo

8.1.12

Per una cultura dell'unità!

L'uomo è in crisi. Senza nord, vive una cultura che lo rinchiude sempre di più nella sua propria esperienza, uccidendo i rapporti e limitando la convivenza sociale. Parafrasando Rollo May, l'uomo deve camminare verso una "conoscenza di sé stesso", però deve riconoscere che una tale conoscenza non può privarlo del contatto con l'altro e con il mondo. La crisi dell'uomo odierno si trova nella cultura predominante, che incita l'etica del solo io, dell'autonomia e del consumo, nella quale l'uomo stesso si distrugge, portando con sé la Creazione. Dunque, si fa necessaria una nuova cultura!

Una cultura capace di comprendere il valore dell'altro, nella quale prevalga il rispetto, l'armonia e l'amore. Una cultura nella quale il differente viene considerato senza essere escluso, dove i deboli e i vulnerabili hanno voce. In una cultura così, la vita è un viaggio, un processo: è storia che si fa in fatti costruttivi, e non destruttivi.

Dobbiamo ricuperare i legami di fiducia con ogni essere che ci passa accanto e credere che soltanto così il mondo e la cultura si possono ricostruire in una rete fraterna dove impera l'Amore. Ma che cosè l'Amore? La parola "Amore" implica il dono di sé, che a sua volta implica l'incontro verso qualcosa o qualcuno fuori dal proprio io, nel riconoscimento di un tu, di un altro. Amare è donare il proprio sguardo, il proprio ascolto e lanciarsi. È, dunque, un atto non sempre facile, che richiede un ampio senso di libertà e una forte coscienza del senso della propria esistenza. Per amare, dobbiamo esseri interi e disposti a incontrare nell'altro una ragione per vivere la vita.

La cultura, con i suoi molteplici contorni, dipende da noi, si realizza in noi ed è segnata dalle nostre azioni. Per cambiarla, dunque, si fa necessario il nostro impegno. Non è sufficiente soltanto criticarla, ma c'è bisogno, innanzitutto, di riconoscere in noi stessi la necessità di cambiare. Criticare i politici o quelli che rubano, ammazzano e distruggono non è abbastanza se non riconosciamo che anche in noi  esiste una certa dose distruttiva quando non rispettiamo l'altro e quando feriamo i nostri rapporti. La legge esiste per aiutare l'uomo in questo intento, ma la morale è dell'uomo e dev'essere vissuta con coscienza a cominciare da ognuno di noi.

È in questo senso che sostengo la necessità di una cultura dell'unità. Non per affermare una egualianza comunista, neanche per lasciare che diritti e necessità umane siano calpestati in favore di interessi limitati. Una cultura dell'unità si fa necessaria perché gli uomini possano ritrovare una convivenza armoniosa tra i propri pari e con la natura. Siamo tutti risultanti della polvere cosmica sparsa da miliardi di anni e figli della stessa Terra, nonostante le tante distinzioni. Per una cultura dell'unità, viviamo l'Amore vero!

Correzione finale: Tommaso Bertolasi



Continue lendo