Textos e reflexões de Rodrigo Meireles

30.5.11

A importância de um marco regulatório para a comunicação

A mídia brasileira necessita de um marco regulatório que a regimente. Essa foi uma das bandeiras mais discutidas no I Encontro de Blogueiros e Mídias Sociais do Ceará, realizado neste último final de semana. Colocou-se em relevo que ainda não existem leis atualizadas que permitam uma regulamentação do setor. Fica a pergunta: qual a importância disso?

É de notório saber que o poder da mídia é de grandes dimensões, haja vista o impacto psicológico e social que gera nas pessoas. Por isso mesmo é preciso ter regras. Não se pode pensar que fazer mídia signifique transmitir ou publicar qualquer coisa, à revelia da ética e do cuidado à dignidade humana. Neste ponto, uma observação importante: enquanto a Constituição Federal de 1988 trabalha com a presunção da inocência, infelizmente o que se verifica na grande mídia é que esta trabalha com a presunção de culpa. Em outras palavras, o risco de tal poder é a destruição pela comunicação. Se a mídia quiser, acaba com a vida de alguém expondo-a na proporção que ela julgar necessária até o ponto em que um direito de resposta já não seria de grande valia. Trabalhar com a presunção de culpa é o mesmo que dizer que se a mídia julga alguém culpado, mesmo sem uma avaliação legal, este "é" culpado e esta o tratará assim até que se mostre o contrário. O problema é que quando o contrário vem à tona já é tarde e o estrago já está feito.

Há quem compare o poder da mídia ao poder ditatorial, afinal, é um poder que se concentra nas mãos de poucos, que decidem o que deve circular definindo os momentos, as formas e as circunstâncias de cada conteúdo. De outro lado, há quem tema que uma regulação da mídia mine a liberdade de expressão, mesmo em um contexto no qual a liberdade de expressão das grandes mídias é a liberdade de poucos sobre muitos. Nesse ínterim, limito-me a afirmar que a verdadeira liberdade de expressão é a que abre o espaço para os ditos e os contraditos, que não se restringe a um ponto de vista limitado. Ademais, se não existem regras para a comunicação social, a liberdade do mais forte se sobrepõe à liberdade do mais fraco.

Eis porque se faz necessária uma regulamentação da comunicação. É preciso garantir a todos os cidadãos o direito à comunicação e a possibilidade de escolher o que quer ver; é preciso garantir o acesso à internet com banda larga para todos; além de ser urgente a luta pela verdadeira liberdade de expressão. Juntamente com outros milhares de blogs Brasil afora, estou junto nesta luta por uma comunicação mais fluida e democrática entre todos os cidadãos. Faça a sua crítica, reflita e levante esta bandeira!





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29.5.11

A arte e a poesia

A vida é arte… o artista não a cria, se ela já está criada, mas a recria com o seu talento; repinta-a, mas não a substitui; complementa-a, mas não faz dela qualquer coisa de novo ou não criado… o artista é observador do que está manifestado. Criador tão-somente de termos ou formas que descrevam esse manifestado, sem, por isso, apossar-se da arte. A arte não é de alguém, mas do contexto da vida, assim como a vida é a arte.

Nesse ínterim, não é demais dizer: a mente do artista é aquela que, por excelência, revela a arte, que envolve diversas formas de expressão. Arte diversa a ponto de ser verificada nos tons da música, nos versos da poesia, nos traços e formas da pintura e das artes plásticas, nos gestos do teatro e do cinema e nos experimentos que hoje congregam tantos modos de expressão artística.

A arte é vida e o artista é expressador dessa vida. Como vivente, ele sente, assimila e descreve a arte à sua maneira, mas parte da vida, parte da visão do mundo e do que perpassa o seu mundo vivido (lebeswelt), lançando o seu olhar sobre ele. A vida prescinde de quem a viva, assim como a arte prescinde do artista.

O poeta, também ele artista, faz da arte (logo, da vida) expressão do vivido através das letras. A poesia é, por assim dizer, a arte da expressão literária do mundo. Não é a única forma de expressão literária, mas é aquela que, por excelência, colhe do mundo palavras que adquirem significados que estão potencialmente além dos que esta própria comunica em suas letras. Na poesia, uma única palavra é capaz de dizer mais do que muitas frases e parágrafos juntos. Eis por que é possível dizer que fazer poesia implica revelar o mundo através de palavras que traduzem a vida a partir de quem a viva e a sente. Não é tarefa fácil, mas o verdadeiro poeta transforma o que sente em versos, assim como faz o pintor com suas telas e o compositor com suas músicas.

E assim, na arte (e por meio dela), a vida se manifesta…


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4.5.11

Como festejar a morte de uma pessoa?

A nação norte-americana vibrou! Festejou à valer como se tivesse vencido um campeonato importante durante a madrugada desta última segunda-feira. Uma festa que ainda continua! Hoje saiu uma notícia de que chegaram ao ponto de confeccionar peças de roupas e outros objetos com estampas destacando a alegria pela morte de Bin Laden. Como alguém pode festejar a morte de uma pessoa de maneira tão efusiva?

Por acaso a morte de Bin Laden resolveu os problemas? Segundo o presidente dos Estados Unidos, "a justiça foi feita". Perguntemo-nos: como se faz justiça? É possível eliminar o mal matando alguém? Estamos realmente livres do mal com o morte de Bin Laden? A julgar pelo tamanho da festa em território norte-americano, sim; mas a julgar com a inteligência que lhes parece faltar nesses momentos, não. O mundo continua o mesmo, com ou sem Bin Laden, pois o mal não é fruto de uma só pessoa; tem raízes bem mais profundas e o que ele fez outros podem fazer.

O atentado às torres gêmeas e ao pentágono, orquestrado pela organização comandada por Bin Laden, foi, sem dúvida, um estrondoso crime contra a humanidade. No entanto, o ato dos Estados Unidos revela a prepotência de uma cultura que se acha salvadora do mundo e com o direito de invadir países com o motivo que julgar correto e oportuno. O que eles fizeram abre novos e perigosos precedentes de violação de direitos humanos, uma vez que a ação realizada no Paquistão pode ser feita em qualquer lugar, como já demonstrado no Iraque e no Afeganistão recentemente.

Os Estados Unidos utilizaram a força militar numa ação unilateral, sem aliança com outros países, em território estrangeiro. Em outras palavras, invadiram a casa de uma pessoa em um outro país e a assassinaram. Por que não capturaram Bin Laden e sua trupe para melhor conhecer as causas que os levaram a cometer os atos de terrorismo? Certamente, a Al Qaeda poderia ser melhor conhecida com uma investigação mais detalhada feita com o próprio Bin Laden, que diziam ser o comandante principal. No entanto, ele foi sumariamente executado, eliminado, num ato tão covarde quanto o que o próprio cometeu comandando o atentado às torres gêmeas e ao pentágono.

O terrorista mais procurado está morto, mas não há o que festejar. Afinal, sangue não pede mais sangue e a paz não precisa da guerra. Onde iremos parar se continuar assim?


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2.5.11