Textos e reflexões de Rodrigo Meireles

26.12.10

A rede social

É bem verdade que o homem é um ser social, dado que não pode sobreviver sem uma relação com algo ou alguém para além de si. Há mesmo quem diga que o homem está diretamente implicado com o mundo no qual vive, com suas nuances e peculiaridades; e há ainda quem afirme que o homem vive em meio ao social e cria laços significativos para a sua existência. No entanto, este mesmo homem, dos tempos modernos ao tempo de hoje, tem atravessado grandes mudanças e vivido alguns fenômenos típicos deste período histórico que parecem contradizer (ou paradoxalmente reforçar) a dimensão social de sua existência. Fenômenos como o individualismo e o niilismo são marcas do homem contemporâneo, como já previa Nietzsche nos anos 1800 e como já havia notado Heidegger em meados dos século passado.

O filme dirigido por David Fincher, "A Rede Social", confirma essa caraterização. Curiosamente um filme que narra a aventura de um nerd cuja principal forma de existência é o computador e que cria uma rede social virtual. A "rede social" que ele cria conecta milhões de pessoas de todo o mundo facilitando a troca de informações, mensagens e até de arquivos, a depender dos aplicativos utilizados. O filme "A Rede Social" não é só a história de criação de um site de sucesso, pois retrata a geração dos jovens de hoje, cada vez mais ávidos por informação e cada vez mais ágeis na obtenção de tal informação.

Sem uma análise mais criteriosa, é fácil perceber que estamos sempre mais conectados, todavia, sempre mais presos e dependentes ao computador, que virou amigo de confiança. A rede social de um suposto mundo virtual ganha força com a troca de informações do mundo real, o que me faz afirmar que mesmo o virtual é real. No entanto, o que está em jogo aqui é a dependência que as ferramentas tecnológicas podem exercer sobre a pessoa, uma vez que criam uma nova forma de intermediário na relação interpessoal. A pessoa tende a depender de algum instrumento para estabelecer ou mesmo fortalecer suas relações, pois ela mesma não é capaz de encarar o mundo e o outro de forma direta como forma de se proteger.

Com as diversas redes sociais espalhadas na internet, é possível perceber que se por um lado elas são bastante úteis para aproximar as pessoas, por outro podem ser prejudiciais quando criam dependência ou quando em nada contribuem para o florescimento das relações pessoais no dia-a-dia de cada usuário. Se há quem se conecte para dizer o que está fazendo ou sentindo para as suas centenas de "amigos", há quem se conecte porque não há amigos de fato e o computador é um intermediário na sua relação com mundo. Em suma, mesmo com a expansão das redes sociais na rede mundial de computadores, não há nada que se compare com os contatos pessoais. Facebook, Orkut, MySpace, dentre outras redes, precisam ser espaços bem utilizados, de modo a complementar ou enriquecer o universo pessoal de quem as utiliza. Do contrário, será somente mais uma evidência do crescente (e paradoxal) isolamento do homem de hoje.

Para finalizar, faço o convite para assistir ao filme citado e tirar as próprias conclusões! São muitas as questões que podem ser levantadas sobre este argumento e certamente poderei retomá-las em outras oportunidades. Enquanto isso, você também pode manifestar as suas reflexões clicando no link logo abaixo do trailer.






Continue lendo

13.12.10

Adagio



O branco no preto

................da vida que dança

............................nas folhas que flutuam

.............................................no vento que empurra

............................................................os pássaros no tempo

.............................................................................................no tempo

................................................................................................................tempo

......................................................................................................................................

É hora de viajar e transpirar poesia ouvindo a suave interpretação de Prelude in B Minor de Serge Rachmaninov (Op. 32, nr. 10), executada pelo pianista italiano Alessio Nanni. Sugiro que se assista em tela cheia (fullscreen).


Continue lendo

11.12.10

Em busca de um sentido para a vida

Compartilho um interessante flash mob realizado em uma estação ferroviária na Bélgica que nos mostra, para além da beleza do evento, a necessidade de algo que movimente as pessoas, sobretudo em um mundo onde prevalece a noite cultural e no qual a escuridão dificulta a visão das coisas e do seu verdadeiro ser.

Percebo neste exemplo que o homem é capaz de fazer qualquer coisa para alcançar a alegria de viver, mesmo em um evento tão fugaz e aparentemente insignificante. Todavia, ainda está paralisado na sua falta de sentido, daí porque facilmente se encanta com a originalidade aparente da loucura. Atrevo a dizer que o homem de hoje ainda não foi capaz de compreender que a pior loucura é o vazio de sentido, e se admira com a aparente loucura dos que ousam fazer atos e gestos diferentes do que regem a norma social. Como podemos no vídeo abaixo, ao som de "Do-Re-Mi", do clássico do cinema "A Noviça Rebelde" (1965), vários dançarinos chamaram a atenção dos passantes de uma estação belga com seus passos coordenados, causando uma grande admiração.

Não surpreende o encanto que podemos colher nos olhares admirados das pessoas que observam ao redor. Todavia, para além do aspecto surpreendente do evento, que chama a atenção pelo inesperado, é possível enxergar na admiração de cada espectador a constatação de que também ele é capaz de fazer algo de diferente, mudando a sua rotina tantas vezes marcada por movimentos repetitivos que nem ele mesmo consegue explicar. Felizmente, embora o passo a ser dado em seguida seja mais difícil do que a constatação das próprias capacidades, é essa constatação que me faz entrever que o homem de hoje pode sair do niilismo que o marca e dar passos corajosos rumo a um sentido para a própria existência.






Continue lendo

4.12.10

NÃO ao PL do Ato Médico

Reproduzo abaixo um manifesto divulgado pelo Conselho Federal de Psicologia contra o Projeto de Lei do Senado 268/2002 (e o PLC 7.703/2006), que visa a regulamentar a profissão de médico no Brasil, mas que há anos vem gerando controvérsias entre os profissionais da saúde. O mesmo PL já sofreu várias modificações ao longo dos anos, mas continua a restringir a atuação dos demais profissionais de saúde, além de colocar em cheque os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) no que tange o acesso livre do cidadão aos serviços de saúde.

Nós, profissionais da saúde, convidamos toda a classe médica para um debate democrático que vise a regulamentação da profissão médica sem, com isso, cair num corporativismo capaz de minar o conhecimento e a prática dos demais profissionais. Todas as profissões de saúde têm de estar a serviço da vida e do cidadão e a regulamentação de cada profissão não pode estar acima disso.

Para conhecer os vários Projetos de Lei que tramitaram entre os parlamentares ao longo dos anos, clique aqui.

Manifesto do CFP (03/12/2010)

Ato Médico: PL não é consenso entre as profissões da saúde

Uma tentativa de colocar o Projeto de Lei nº 268/2002, conhecido como Ato Médico, na pauta do plenário do Senado Federal em regime de urgência, sem que tenha havido consenso entre os diversos setores da área da saúde, foi realizada na tarde de quarta-feira, 1 de dezembro de 2010, quando representantes da classe médica foram ao gabinete do senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, fazer a solicitação. Não há um texto de consenso para o PL, ao contrário do que vem sendo anunciado por setores da medicina.

A possibilidade de votação do PL a toque de caixa, no final da legislatura, preocupa as profissões da saúde, pois não foi realizada uma discussão mais ampla no Congresso e o debate, definitivamente, não foi amadurecido na sociedade brasileira, que é a maior prejudicada pelas mudanças. O PL do Ato Médico, tal como está, interfere diretamente no funcionamento do Sistema Único de Saúde. Se aprovado, o PL afetará a todos os usuários do SUS. Ademais, o projeto ainda não passou por todas as comissões que deve passar no Senado.

Em reunião com o presidente do Senado Federal, José Sarney, na terça-feira, 23 de novembro, representantes de conselhos profissionais, fóruns e associações de profissionais e usuários da saúde expuseram suas preocupações em relação ao PL. Na ocasião, Sarney assegurou que o projeto não entraria na pauta em regime de urgência e reconheceu que o assunto é controverso. “Não vamos colocar em urgência, estou vendo que é um assunto controvertido”, afirmou o presidente do Senado.

Estiveram na reunião conselheiros do Conselho Nacional de Saúde (CNS), representantes do Fórum das Entidades Nacionais dos Trabalhadores da área da Saúde (Fentas), da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), dos Conselhos Federais de Psicologia (CFP), de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Cofito), de Fonoaudiologia e de Enfermagem. O movimento contra o PL do Ato Médico reúne entidades e associações de diversas profissões da saúde.

O chamado Ato Médico interfere na autonomia do trabalho das profissões da saúde e causa danos ao SUS ao prejudicar o atendimento integral à saúde da população. O debate é essencial para que seja garantida à sociedade o direito do atendimento multiprofissional.

Clique aqui para aderir à campanha virtual e enviar manifesto aos senadores.

Conselho Federal de Psicologia



Continue lendo